First World War shipyard workers |
Os trabalhadores da CP estão hoje em greve, uma vez mais, por causa dos cortes salariais. Confesso que, sempre que vejo uma greve, me solidarizo com os 'coitados' dos trabalhadores, que trabalham horas a fio para levar um parco rendimento para casa ao fim do mês. Nestes casos penso sempre em imagens como esta aqui de cima, em que se exige um esforço físico e mental titânico para se aguentar as tarefas que nos incumbem. Imagino as poucas centenas de euros que o trabalhador leva para casa, e com os olhos marejados de angústia pensa que «talvez no próximo mês seja melhor». Penso numa casa velha mas arrumada, com um santo à entrada a dar as boas vindas a quem vem por bem. Penso nas mãos enorme e calejadas do trabalho árduo, e do carácter e honra que as agruras da vida conferem. Num carro velho mas sempre afinado que é o orgulho da família ao Domingo, quando dão asas à alegria e cometem o pequeno excesso de ir até à praia de carro, passear os miúdos. Uma vida difícil mas honesta e honrada. O meu espírito ingénuo não me permite pensar num cenário diferente deste, afinal eles são simples trabalhadores que estão a fazer greve!
E depois leio esta notícia:
De acordo com a folha salarial da CP a que o SOL teve acesso, um inspector-chefe de tracção recebe 52,3 mil euros, há maquinistas com salários superiores a 40 mil euros e operadores de revisão e venda com remunerações que ultrapassam os 30 mil euros por ano.
«Só por se apresentar ao trabalho, cada maquinista recebe mais de seis euros por dia, devido ao subsídio de assiduidade».
«O tempo médio de escala dos maquinistas é de oito horas por dia, num total de 40 horas semanais. Mas, em média, o tempo de condução está entre as três e as quatro horas diárias»
Isto não é gralha, há tipos que só trabalham 3 a 4 horas por dia e recebem todo aquele dinheiro. Eu não sou economista, mas proponho aqui fazer uma breve comparação de números. Quem me lê habitualmente sabe quem eu sou e qual a minha profissão. Vamos começar por aí. Não me chateia nada ver que alguém ganha mais do que eu, não! Aliás, sonho com o dia em que muitos dos meus pacientes ganhem tanto ou mais do que eu, que Deus sabe que bem precisam. O que me chateia não é ter de trabalhar 6 dias por semana, 8h por dia e às vezes ter de dormir no Hospital. Isso não me chateia, faz parte da profissão que eu escolhi por vocação e, diga-se a verdade, sou bem remunerado por isso. Sempre que leio ou oiço algum camarada de profissão a queixar-se desta vida, fico angustiado. Angustiado pela falta de sensibilidade de saber que se quase 3.000,00€ mensais não são suficientes para ter uma vida tranquila nesse capítulo, o problema então não está no dinheiro, está na pessoa.
É o caso destes senhores que trabalham na CP, que deviam era ter vergonha na cara e olhar para prejuízo colossal que a empresa acumula e para os cortes que toda a gente, eu disse TODA, deveria fazer.
E sim, podem já começar pelo meu ordenado se assim entenderem, desde que não se esqueçam de fazer o mesmo ao deles. Alguém aqui acredita que existe outro rumo para sairmos desta crise que não passe pela contenção da despesa pública? A subida do IVA mesmo que «seja somente em último caso» seria catastrófico para o tecido empresarial português, que se baseia em micro e pequenas empresas. Eu já perdi a conta aos pacientes que inevitavelmente me dizem: «sabe Sr. Doutor, tudo começou quando a fábrica faliu, fui eu e a minha mulher, mais a minha sobrinha e o marido, para o desemprego. Com esta idade já não arranjamos trabalho e já sabe como é... as preocupações...» Sim eu sei o que é isso, acabei de ver a vida desta pessoa estampada no seu coração fraco e desamparado e sei bem o que nos espera.
Mas isto sou eu a falar, o que é que eu percebo de sofrimento dos mais fracos e socialmente desprotegidos?
Muito bem dito ( escrito, neste caso ). Este sistema de empresas-públicas é um absurdo pois de empresas( e já só me refiro à relação ganhos / perdas ) só têm mesmo o nome.
ResponderEliminarÉ triste,
SL
Muito bom o artigo e acho importante esse sempre presente ponto de vista. São os excessivamente favorecidos quem tem levado o país ao ponto a que ele chegou. Existem empregos milionários e quando as crises chegam não são esses quem a sente verdadeiramente. Eu penso que se auferissem ordenados na ordem de 3 ordenados minimos já seria bem bom. Afinal, há famílias com filhos cujos que juntos nem chegam a receber tanto e têm na mesma de conseguir viver e ter as suas coisinhas. Gente que tendo tão pouco para enfrentar as contas de todos os meses, sem regalias e luxos pagos, são normalmente os mais atacados pelas decisões governamentais. Eu que o diga...
ResponderEliminarAumentos do IVA, dos transportes, da gasolina, impostos por todo o lado... serão sempre mais sentidos por quem menos tem. Depois aliemos o facto de a sociedade nos orientar para termos certas coisas e serviços... Telemóveis, computadores, serviços tv, internet, vestuário, etc, etc... É uma vida dificil e o pais está a descambar porque os desiquilibrios são cada vez maiores (recordo-me sempre que do símbolo da justiça: uma balança). O novo riquismo em Portugal faz com que muitos estejam demasiado bem e precipitam outros para dificuldades. No fundo, quando temos sectores empresariais a conquistarem excessivos lucros anualmente (normalmente ainda mais que no ano anterior) algo está errado e a balança em cada vez maior desequilibrio.
Basta-nos constatar os resultados dos sectores chaves, na ordem das centenas de milhões de lucros: banca, combustíveis, energia, comunicações... fazendo com que o grosso do rendimento do país fique sempre nos mesmo donos (e de alguém esses enormes proveitos têm saído).
O Governo não tem neste momento falta de milhões de euros? Bastaria ficar com os lucros destes sectores e dar fim ás fundações e aos montes de empresas públicas obscuras que estaríamos bem melhor e nem haveria a crise política e orçamental do momento actual.
Olha... no fim de tudo... estamos todos na merda mas uns mais que outros.
@Leão. Exactamente, estas empresas públicas só servem para desfalcar os nossos parcos recursos. Enquanto este estado de coisas vigorar não vamos conseguir levantar a cabeça.
ResponderEliminar@ArmPauloFer. Começando pelo fim. Já aqui fiz referência a alguns casos escandalosos. Ainda a procissão parecia ir no adro:
http://bancadadeimprensa.blogspot.com/2011/03/segurar-as-pontas.html
http://bancadadeimprensa.blogspot.com/2010/10/porque-os-sacrificios-nao-sao-para.html
http://bancadadeimprensa.blogspot.com/2010/10/um-corte-de-20-nos-institutos-publicos.html
http://bancadadeimprensa.blogspot.com/2010/10/assim-anda-politica-portuguesa.html
A certo momento desencantei-me e agora acho que não há solução para Portugal. Vejo isso todos os dias em casos desesperantes no hospital. e estou a falar de pessoas com condições para ter, no mínimo!, uma vida aceitável.
Há famílias com bons carros e casas que não tem o que comer, acreditem ou não. Sim o caso é grave, mais grave do que parece ser.
E é isso que me assusta ainda mais.
E é isso que, inevitavelmente, acabará por ditar por exemplo a saída de Portugal de muita gente. Incluindo eu, que não estou para enriquecer, com o meu trabalho, um bando de pançudos.
Esse bando que poderia começar por extinguir os milhentos institutos públicos, muitos deles sem funções atribuídas (mas o que é isto cara***?). Não que resolvesse de imediato os problemas, mas sempre dava um certo alento para o povo levar o barco a bom porto.
DUX XXI,
ResponderEliminarEstava a ler tudo muito atentamente e acabei por (agradecidamente) perder-me em todo o qualquer link que atirava para outro lado, e por isso perdoa desviar-me da CP. Fabuloso DUX, simplesmente fabuloso. Tenho um enorme respeito por gente que faz o que tu fazes: é aquele tipo de coisa em que superficialmente se diz - ou eu digo muita vez - "nunca faria, não seria capaz" sem se pensar muito bem no que se está a dizer. E isso acontece precisamente por parecer tratar-se de um universo separado de tudo, por vários motivos: especificidade do exercício, conhecimentos, preparação, aquilo que se está a fazer ... Eu não consigo sequer visualizar, ou imaginar, palavra. Sei lá ... um corpo ou uma caixa craniana aberta, ou cabeça ou seja lá qual for o termo certo, e mexer-se lá dentro, com ferramentas e pinças e tesouras e serrotes. Tudo isto soa a impossível, não dá sequer para imaginar. E até porque é desconhecido. Eu nunca vi o que tu vês, por exemplo, a tua visão. Estás a olhar lá para dentro e esse quadro ninguém o conhece, porque não faz parte daqueles elementos visuais que nos são familiares. Não se vê imagens disso, na televisão, ou seja lá no que for, não faz parte das diárias rotinas de uma pessoa "normal". É um mundo desconhecido e estranho. Olha, curiosamente, e esta pequenina nota é profundamente irrelevante mas recordo há umas semanas ter-me sentido incomodado com algumas coisas ditas sobre o Eduardo Barroso precisamente por isso. Não tem que ver com futebol DUX, estou apenas a dizê-lo porque aconteceu, senti-me incomodado justamente por essa razão.
Li tanta coisa que nem sei por onde começar.
Respeito, infinito respeito, porque apesar do mundo ser-me estranho ele é mais ou menos familiar. Familiar numa vertente muito própria, porque como disse não conheço nada do que se passa, não me lembro de alguma vez ter visto algum daqueles elementos visuais que te falei, e portanto tudo isso é estranho. Mas ao mesmo tempo não é. Por causa da minha mãe DUX, e a sua profissão. Ela fez parte da equipa do, do agora não lembro o nome, aquele que era médico do Benfica há muitos anos, um sujeito de bigode, Vasconcelos isso. Bernardo Vasconcelos, ela fez parte da equipa dele no São Francisco e trabalhou alguns anos depois com o Eduardo Barroso na CUF, numa altura da sua vida - minha mãe - em que trabalhava nos 2 sítios ao mesmo tempo: São Francisco e CUF. Durante uma carrada de anos e sensivelmente até, sei lá, 1999 talvez, trabalhou mais de 25 anos nas Urgências do São Francisco, Bloco Operatório. Depois cansou-se DUX, e mudou de serviço. Passou a trabalhar das 08 às 15 a fazer aquilo que muitas enfermeiras fazem em Centros de Saúde, aquelas coisas mais simples como vacinas e pensos e coisas desse tipo.
Mas DUX durante esses mais de 25 anos, espera. Deixa-me só dizer algo que lembrei: eu era muito pequeno e não retirava entendimento de nada daquilo. Sabes como é vais-se para a escola, está-se lá das 08 às 18:00, volta-se para casa, vê-se televisão e come-se, e vai-se dormir. E todos os dias são assim, e não se pensa em nada claro, nada que vá para além disto pelo menos ou que saia desta esfera. Um miúdo não pensa naquilo que os pais fazem, ou não fazem. Lembro-me de ir com o meu pai às vezes apanhá-la à meia-noite ao Hospital, ou então às 07 da manhã antes de ele nos levar - a mim e ao meu irmão - à escola, também ao Hospital, porque ela trabalhou uma série de anos em, em não sei o nome, mas lembro-me que em miúdo adorava o som da palavra ... ajuda-me por favor, romã?, rolmã?, rolman? O som é este. E ela dizia tal coisa, "estou de rolman", ou "vou fazer rolman", algo assim DUX e eu não sei exactamente o que será mas decerto relacionava-se com o trabalhar ora manhã, ora tarde, ora noite.
DUX, perdi-me. Fui fazer café fumei um par de cigarros e agora já não sei onde é que ia. Vou submeter isto, ler, e depois reorganizar. Eu sei que em texto não se vê mas, os intervalos de tempo existem, e estes neste 6 ou 7 minutos o fio evaporou-se. Espera um pouco por favor.
Sim ... e é tudo estranho, esse universo de que fazes parte. E estava como disse a ler-te, não aqui a CP mas os sítios para onde atiraste, e de repente uma série de coisas vieram-me à memória.
ResponderEliminarPor exemplo DUX:
Tu dizes, como quem está a falar de uma coisa normalíssima, vou à cantina e bebo café, leio umas coisas, já está tudo peparado, e depois vou lá. Vou lá, onde? Mexer nas pinças e nos serrotes naquele sujeito que está ali aberto e que eu vou operar. DUX, isto é insano, e formidável. Não é uma coisa que eu consiga entender, juro. Era como ouvir conversas da minha mãe com colegas e parecia sei lá, que falavam de sapatos ou bolas de berlim. Uma coisa estranhíssima. Eu sei que não é a mesma coisa, porque ela dizia. As pessoas que estão na sala contigo não fazem o que tu fazes, não estão preparadas para isso. Ajudam-te só, porque o trabalho principal és tu quem pratica. Isto, visto por quem está de fora. Porque tal como está lá num dos textos, falas em "equipa". Pronto, claro que sim, mas mesmo assim não é obviamente a mesma coisa. Bom, mas para mim é como se fosse. Porque estão lá, elas vêem o que tu vês. Estão todos lá em volta do sujeito, ou da sujeita, e depois cada um faz aquilo que tem de fazer, e portanto o universo é o mesmo. E estava a ler-te e a lembrar-me: a minha mãe vinha lá do Hospital à meia noite e depois sei lá, ia para casa cozinhar qualquer coisa. Às 21:00 estaria lá contigo em volta de um fígado, e depois à 01:00 desse mesmo dia estava lá em casa a fazer iscas, ou a fazer torradas.
DUX, tu és um extraterrestre.
DUX, noites de Natal e Ano Novo:
ResponderEliminarInsano, insano, as histórias.
Ou partos. De madrugada, não sei mas acho que de madrugada havia muitos partos, e muito grito e asneirada. É assim ou não? Não sei e se calhar não é, digo isto talvez porque me lembre dela contar qualquer coisa uma dia sobre uma tipa que a dar à luz passou o tempo todo ao médico e às enfermeiras que lhe faziam o parto "filhos da puta para aqui e filhos da puta para acolá", aos berros. De dôr, imagino, ou stress sei lá, nunca dei à luz.
Ou acidentes. Ah DUX, e os cacifos, extraordinário. Eu às vezes ia lá ter com ela, ao -2. O Bloco era no -2, e numa dessas muitas vezes que lá fui ela estava à conversa com 3 ou 4 colegas e um tipo qualquer também vestido de enfermeiro dormia lá num baco, onde estavam os cacifos e roupas e tudo isso. E o cheiro daquele piso era muito particular. Sentia-se a diferença: no 0 via-se muita gente, mas muita muita muita, tudo à espera, muito barulho, e depois descia-se no elevador e não se ouvia um som que fosse. Tudo vazio, e o cheiro era diferente. E o chão DUX, brilhava muito. Não sei quem é que faz a limpeza nos Hospitais mas pelo menos ao nível do chão aqueles eram muito bons. E não falo daquelas zonas comuns onde estava a multidão e o barulho, mas lá em baixo, onde ninguém ia. Sempre impecável.
DUX,
ResponderEliminarE mesmo fora dessa área hiper-complicada de que fazes parte, toda a àrea da Saúde no que aos seus profissionais concerne, devemos ter sempre imenso e profundo respeito por ela. É claro devem haver bons e maus, há em tudo, mas mesmo nas coisas mais simples e nos actos mais pequenos, é um trabalho que a maioria das pessoas não o faria nunca: mexer em sangue, ou feridas, pus, idosos e idosas, corpos nus, gente de toda a espécie e feitio. Eu não o faria pelo menos, assim imediatamente sei lá, ou antes de fazer isso lembrar-me-ia de fazer 100 coisas diferentes dessa.
Muito respeito DUX, por tudo isso.
Ah já agora: vidas desordenadas. A tua área produz muito isso, aos profissionais que dela fazem parte. Pelo menos aos dessa espécie. A nossa pelo menos era. Era e não era. Era fácil, porque a desordem é fácil. Mas não leviano ou imprudente, não é isso que digo. A minha mãe tinha controlo, mas ao mesmo tempo não tinha. Por exemplo assuntos de escola, notas, estar por dentro daquilo que os filhos faziam, conversas e isso, não havia muito. O que era bom, muitas vezes. Lembro-me uma vez ter dito ao Duarte - tu não o conheces - "dá-lhe isso para assinar, qual é o problema?". E alguns assinava eu DUX, testes, os negativos. Porque o importante era passar de ano e isso sempre fiz, e portanto ela andava descansada.
Só 2 coisinhas muito pequenas e perdoa tudo isto por favor: havia um negro, Bambé, e a minha mãe gostava muito dele. Jóia de pessoa, segundo ela. E só mais uma coisinha DUX, lembro ela dizer que o Eduardo Barroso gritava muito, perdia as estribeiras e que era um pouco complicado trabalhar com ele (e agora acabei de lembrar-me que este período da CUF coincidiu em "tempo Português" com o cancro do Marco Paulo, lol. Não tem piada eu sei, mas acabei de lembrar-me, só isso). O Marco Paulo andava lá pela CUF a curar o seu cancro nesta altura em que a minha mãe trabalhava com o novo presidente da AG do Sporting, também na CUF. Gritava muito mas era a excelência em pessoa, na prática, dizia. Cirurgiões bons e cirurgiões maus, ela falava sobre isso algumas vezes.
Tudo o que era público, segundo ela, era do melhor que havia. Privado, nem por isso. Não sei DUX, tu saberás de certeza. Sinto pena DUX, agora que falo nisto. Sinto pena de nunca me ter interessado muito por aquilo que a minha mãe fazia.
Um abraço.
@MM,
ResponderEliminarmas que grande imaginação tens tu pá! A sério, estou boquiaberto com a tua imaginação.
Mas sim, parte do que dizes é mesmo assim, insano e formidável. Mas também aterrador. É preciso ter um auto-controlo pouco usual. Daí que, por exigências inerentes à própria profissão, exigências até físicas, a carreira seja um pouco mais curta do que a de um qq outro médico. Como aliás deve ter acontecido com a tua mãe. E depois à a exigência psicológica, é uma coisa brutal (tenho uma conta do psicólogo como prova!)
Para mim é brutal, que sou um humanista, mas sei bem que para outros é rotina. Mas eu não sou, nem quero ser assim, insensível à dor dos outros.
No dia que isso acontecer arrumo a trouxa e vou para casa. É um compromisso comigo próprio. Por isso é que sofro, porque me interesso pelo doente e pela família. também só assim é possível aplicar a melhor terapêutica.
Revi-me na história de um enfermeiro dormir num banco... eh pá! tantas vezes! Aos 20 e 30 minutos de cada vez! Ainda ontem :)
Na minha área existem bons e maus profissionais, há quem esteja cá por dinheiro e quem esteja por convicção. Ou as duas coisas. Mas é como dizes, não é fácil e há dias em que eu não quero trabalhar, porque estou farto de ver o sofrimento humano. Eu não sou DEUS. Quando pego num bisturi, numa tesoura ou num tensor (meu Deus o tensor...) tento contrariar o inevitável. Sou a última barreira, antes da morte. Vezes sem conta. Vezes demais.
Vidas desordenadas sim, também, porque não é de facto uma vida com um horário normal. O tempo vai passando, connosco embrenhados na profissão que chega um dia que pensamos que negligenciamos uma parte da nossa vida. Comigo e com a TM não aconteceu isso, trabalhamos na mesma área o que acabou por atenuar certas coisas. Mas não é fácil, daí, por vezes, haver esta necessidade de pausas, de mudanças de ar, de local de trabalho até.
Connosco já é a 2ª vez. Falo de pausas e de mudanças. Embora tenhamos voltado à base. A América é gira e tal, é mesmo deslumbrante. Mas não passamos de uns miúdos de Gasteiz e do Parque de Salburua. Que é só um dos locais mais bonitos do Planeta Terra, e seguramente o local onde fui mais feliz. Na cidade e no parque. O País Basco não é o que se vê nas notícias (pelas piores razões), é bem mais e melhor que isso. É um belo País com especificidades próprias, uma espécie de enclave. Isso molda-nos o carácter, por isso somos diferentes. Diferentes mas nem sempre melhores.
Mas sobre isso falarei num post em breve até porque, em 2012 é a capital verde europeia:
2010: Stockholm
2011: Hamburg
2012: Vitoria-Gasteiz
2013: Nantes
Olha MM já estou a divagar :) Obrigado por este momento, a sério. Obrigado.
PS: E. Barroso tem fama de muita coisa ;) mas sempre foi reconhecido como um bom cirurgião. Beneficiou de muita exposição pública, que adveio da família e do amor ao clube. Mas há melhores (olha a modéstia!). Não nesse capítulo está Portugal muito bem servido. Fosse tudo assim MM, (qualidade de cirurgiões) e não estaria o País onde está.
PS 2: se ainda for possível ouve as histórias de tua mãe. Certame que aprenderás muito. Acredita.
Vim aqui parar através de um comentário seu no Bitaites. Muito me agradou, uma vez mais, descobrir um blog com conteúdo! Ora... Por onde começar? Relativamente ao post daquele ser que se sente escandalizado com os conteúdos da educação sexual: a senhora deve ter concebido a filha dela através da inseminação do Divino Espírito Santo... Também o meu pai é médico e sempre, mas SEMPRE, fez questão de me falar sobre tudo, principalmente a nível sexual... Não é por acaso que (eticamente ou não) mais tarde se tornou no meu ginecologista, mas entre "abrir as pernas" para qualquer colega dele, que no dia seguinte está sentado à mesa do restaurante comigo, ou o meu pai que me criou e que toda a vida me viu nua e que eu vi nú sempre, acho que me fico pelo meu pai... Falar-se de homossexualidade, relações sexuais, preservativos ou orgasmos à mesa era o pão nosso de cada dia... É NATURAL, todos acabamos por fazê-lo um dia e até os padres ou a freiras o fazem (ups... não era para dizer??) Acho uma hipocrisia monumental a senhora dizer que vai fazer queixa ao ministério... Se calhar a filhinha pensa que veio no bico da cegonha!! E assim vamos criando seres completamente deslocados da realidade! Quanto ao post com a foto do Kevin Carter, já fiz voluntariado, enquanto estudava em Lisboa, mas neste momento é-me quase impossível dispender tempo... Vamos ajudando das poucas formas possíveis, mas o seu post indicou mais algumas! Quanto a este... Bem... Sou licenciada, tenho um contrato de 8 horas, 5 dias por semana, trabalho no mínimo 9 horas por dia, já fiz 17 horas seguidas em que almocei e jantei (ou comi qq coisa...) na minha secretária, porque tinhamos mesmo de fechar um negócio, ir para casa as 2h da manhã, para as 7h acordar para irmos para a reunião com o cliente, a um sábado, até as 17h... Recebo 650€ brutos e nem um tostão a mais por horas extra... Sobrevivo, admito, mas não me posso queixar porque, pelo menos, tenho trabalho! Não compro uma prenda de aniversário à minha mãe porque não há dinheiro, mas vou tentar ir vê-la à terrinha, já que, por falta de dinheiro e porque trabalho sempre até tarde é difícil ir lá no fim-de-semana...O que vale é que, independentemente de quanto ganhasse o meu pai na altura, sempre me deu aquele montante (e acredite que não era muito!!) para eu gerir... Quando no segundo mês de universidade e completamente deslumbrada pelas lojas da baixa lisboetas lhe liguei a dizer que não tinha dinheiro porque me tinha perdido a comprar uns trapinhos que bem precisava, recebo um "pois é filha, temos pena... Eu dei-te o dinheiro suficiente e tu não o soubeste gerir... Tenho muita pena, mas neste momento, e desculpa a expressão, come merda! Desemerda-te de alguma forma porque não vais ter mais dinheiro até ao final do mês!"
ResponderEliminarPode parecer muito duro, mas aprendi a gerir o meu dinheiro e a viver com o pouco que tinha. Essa educação permite-me hoje conseguir pagar as minhas contas e ter algum de parte, caso aconteça alguma coisa. Não me privo de nada, mas fazem-se as coisas com conta, peso e medida... E se não é este mês, será para o próximo, começamos já a pôr de parte! Mas o que me custa mais nisto tudo é querer ter filhos e não os ter por saber que não tenho capacidades para tal... "Faz-se um esforço!"; "Um bocadinho ali, um bocadinho aqui, com mais ou menos esforço e tudo se consegue"... Diz-me toda a gente... Mas para o meu filho, um bocadinho aqui e outro ali não basta... Porque não quero pedinchar aos meus pais se precisar de ir ao médico e não tiver dinheiro, ou para pagar os livros da escola... Alarvidades como os da CP há aos pontapés neste país, infelizmente... A isso junta-se também o famoso comentário de Diogo Leite Campos (http://www.youtube.com/watch?v=8ZAmTTpqstk&feature=related) que é um verdadeiro ultraje a quem simplesmente não consegue ganhar mais... E ainda disse eu, relativamente aos cortes no subsidio de natal: "epah... Se for necessário isso para nos tirar da crise, venham elas!!".... E o que me chateia no meio disto tudo é saber que esse dinheiro vai é encher o subsidio de natal destes senhores e de tantos outros... Esta cultura tipicamente portuguesinha mete nojo, desculpe... Mas acho que vou pegar é nas coisinhas e emigrar, já que os meus amigos em Angola recebem aos 5000€ e na Suiça aos 4000€... O dinheiro não é tudo, mas contar os tostões para saber se temos dinheiro ao final do mês para o pão é que não é nada!!!
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