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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Crónicas Ricardo Araújo Pereira (06.11.2010)

Mais uma crónica de Ricardo Araújo pereira no jornal A Bola do dia 6 de novembro de 2010. Estou curioso como é que ele vai descalçar esta bota dos 5 a 0 no dragão. Espera acho que já sei, vai, uma vez mais falar de café com natas, youtube, escutas... Já parece o 'Cassete Carvalhas'. Isso e já começa a perder a piada.


Parabéns ao Porto pela vitória de amanhã

Manda o desportivismo felicitar o adversário quando ganha, e eu aproveito para me antecipar. No jogo de amanhã, tudo está a favor do Porto. O Benfica vai, provavelmente, apresentar a sua segunda equipa. Creio que a inteligente estratégia inaugurada pelo Leiria pode ter feito escola, e não me surpreenderia que todos os clubes passassem a jogar no Dragão com as reservas. Dizem que poupar jogadores no Dragão é duplamente saudável: refresca os titulares que descansam, e também revigora os clubes. Quando se sabe gerir o esforço é outra coisa. Além disso, o árbitro será Pedro Proença, que é benfiquista (como Vale e Azevedo), e é o célebre inventor do penalty inexistente de Yebda sobre Lisandro López, há dois anos. 

Talvez Proença e Vilas Boas possam, no fim do jogo, trocar algumas impressões acerca da actividade de detectar penalties que mais ninguém vê, da qual são ambos orgulhosos praticantes. De acordo com o jornal Semanário Privado de 26 de Agosto de 2009 (que só li para não ser excluído da discussão pública), Pedro Proença é também referido na escuta de uma conversa entre Pinto da Costa e Pinto de Sousa. Pinto da Costa pergunta ao amigo quem vai ser o árbitro de determinado jogo do Porto, e Pinto de Sousa responde, referindo-se a Pedro Proença: «É o que a gente combinou». O futebol português pode ter muitos defeitos, mas do ponto de vista da organização é irrepreensível: quase tudo está combinado. Mais: o Benfica tornou a preparar-se de forma deficiente para o jogo. Como se viu em Coimbra, bola na mão na área do Porto é bola na mão; bola na mão na área do adversário é penalty, o que constitui urna vantagem inestimável para os portistas. A ártica maneira de contrariar esta vantagem do Porto é reforçar o plantel com jogadores manetas, e o Benfica teima em não o fazer. Por outro lado, a equipa volta a apresentar-se no Dragk) apenas com os onze jogadores, e não com onze jogadores e onze caddies. É indigno que tenham de ser os próprios futebolistas a apanhar as bolas de golfe.

ACADÉMICA e Porto encontraram-se na semana passada para jogar urna modalidade desconhecida, e o resultado final foi a vitória do Porto. Surpreendentemente, os três pontos obtidos contaram para o campeonato de futebol. Foram várias as pessoas que dis seram que o jogo não se deveria ter realizado, mas compreende-se a decisão de não adiar. Se o jogo tivesse sido adiado, o Porto chegaria ao encontro com o Benfica com apenas quatro pontos de avanço. Se se realizasse na data prevista, poderia chegar com sete. Valia a pena arriscar. 

MIGUF.I. SOUSA TAVARES insiste que «a Declaração de Independência dos Estados Unidos é parte integrante da Constituição americana, escrita oito anos depois» . Lamento, mas é falso. A Declaração de Independência não é  repito, não é — parte integrante da Constituição americana, que por sua vez não foi — repito, não foi — escrita oito anos depois, mas mais de dez anos depois. Não é bem uma questão de opinião, é um facto que pode ser comprovado por qualquer leitor, por exemplo no sitio da biblioteca do Congresso. Os leitores interessados podem ain da consultar Os Lusíada o Pantagruel e o Kama Sutra e verificar a curiosa coincidência de todas essas obras terem em comum com a Constituição americana o facto de a Declaração de Independência não ser — repito, não ser parte integrante delas. Creio que, após ter confundido a Constituição com a Declaração de Independência, MST confunde agora a Declaração de Independência com a Declaração dos Direitos dos Cidadãos (a chamada Bill of Rights), que contém as primeiras dez emendas à Constituição. Começam a faltar documentos históricos importantes para MST confundir com a Declaração de Independência, pelo que tomo a liberdade de sugerir, para confusões futuras, os seguintes: a Magna Carta, o Tratado de Tordesilhas e os Estatutos do Clube Desportivo Arrifanense. Resumindo: como tenho vindo a dizer, a frase que MST citou como sendo da Constituição é da Declaração de Independência — e atribuí-la à Constituição é, aliás, um erro comum. Mas não é grave. É sem dúvida menos grave do que a incapacidade de admitir erros. MST gaba-se de ter sido, juntamente com Cavaco Silva, «o único de todos os convidados a recusar o convite» para ir ao Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios. Lamento, mas é falso Confesso que desconheço como é que MST, sem recurso a poderes mediúnicos, julga saber quem é que foi ou não convidado por nós, mas esta nova mistificação tem um objectivo claro: sugerir que os textos de MST são de tal modo excelentes que a mais pequena crítica que lhes seja feita só pode ser produto de tuna mesquinha vingança. No entanto, ao contrário do que MST pretende, recusaram ir ao programa Cavaco Silva, Jorge Sampaio, Pinto Monteiro, Manuel Pinho, Maria José Morgado, Belmiro de Azevedo, José Mourinho, Cristiana Ronaldo, Azeredo lopes, Maria dei urdes Rodrigues, Alberto João Jardim, Manuel Alegre, Pacheco Pereira, José Eduardo Moniz, Manuela Moura Guedes, Medina Carreira  e Miguel Sousa Tavares. Faça-se justiça: MST, não tendo sido o único a recusar, foi, sim, o único a pedir 24 horas para pensar. Todos os outros decidiram mais depressa. Quanto a nós, nem retaliamos contra quem recusa nem premiamos quem aceita. Basta lembrar que Rui Moreira aceitou participar num programa nosso e leva o mesmo tratamento. Mas, tal como MST, também eu me tenho lembrado, por estes dias, do Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios. Era um programa cuja estratégia humorística principal consistia em apresentar declarações de determinado político a defender urna dada posição, seguidas de outras declarações do mesmo político a defender a posição oposta. A incoerência, quando é assim flagrante, tem graça. E, como vivemos em democracia, apontar as incoerências dos mais altos (e também de alguns dos menos altos) dignitários da nação é legítimo. Fazer o mesmo com as doutas opiniões de comentadores desportivos é que parece ser intolerável.

Ricardo Araújo Pereira, 6 de Novembro 2010 in Jornal A Bola

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