Numa coisa estou de acordo com José Eduardo Bettencourt: não vale a pena os sportinguistas tentarem dar-lhe lições sobre como lidar seja com quem (ou com o que) for, até porque não há lição que ele adopte. Quanto ao resto, devo dizer que não me revejo na sua estranha frase "Temos de acabar com a cultura de nos comermos uns aos outros". Nem naquela outra de Bessone Bastos, igualmente proferida ao longo da assembleia geral de quarta-feira: "O Sporting é um clube democrático." Nem, aliás, naquela outra ainda da nossa consócia nº 6, Maria de Lourdes Borges de Castro: "Em 87 anos de sócia, nunca tinha visto gente tão mal-educada. Assusta-me o estado em que está a nossa juventude."
Também a mim me assusta o estado em que está a nossa juventude. De outra coisa não tenho falado, por exemplo, nas minhas crónicas na revista NS', que aos sábados acompanha este jornal. "Nunca" ter visto "gente tão mal-educada" já é diferente: é não ter estado minimamente atento ao que há uma série de anos se passa nos estádios e nos centros de estágio, nos debates de televisão e à porta das salas onde acontecem reuniões das direcções do Sporting, do Benfica, do FC Porto, do Belenenses, da Académica e de qualquer outro clube português com suficientes ambições para ter claques, facções e disputas seja de que natureza for.
Agora, uma coisa é a malta andar à porrada por nada. Outra é, numa AG do Sporting do século XXI, haver sopapo. E, quanto a isso, só tenho três observações a fazer. A primeira é que umas bofetadas entre os sportinguistas até podem, bem vistas as coisas, vir a verificar-se profilácticas. A segunda é que, tendo em conta a situação, era de esperar que isto já tivesse acontecido há mais tempo. E a terceira é que, perante tão clara ausência de outra saída, mais vale não afastar em definitivamente a possibilidade de, mais dia, menos dia, tornarmos a usar o recurso. Contra mim falo: há anos que ando a alertar, debalde, para o verdadeiro desastre que vem desabando sobre o clube – por escrito é que não se resolve nada, de certeza absoluta.
Sabem qual é o verdadeiro problema disto tudo? É que, apesar da comoção de anteontem, aquilo que Costinha registou foi o elogio de Vítor Espadinha, mais ou menos irónico (mas, para o director desportivo, honesto e justíssimo): "[Costinha] Parece um modelo da Fátima Lopes." Quanto a Bettencourt, já se sabe: nem isso registou. Basicamente, e como de costume, o nosso presidente não registou nada. Este clube é uma depressão com pernas.
CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo").
Jornal de Notícias, 15 de Outubro de 2010
Brutal artigo... Incrível!
ResponderEliminarAbraço
Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera
Bimbosfera.blogspot.com