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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Malcolm Allison (1927-2010), o treinador que gostava de viver para lá do futebol

Este é um artigo publicado pelo site Sporting Apoio e poderá ser lido na integra seguindo este link.


Malcolm Allison não escondia de ninguém os charutos nem as garrafas de champanhe. “O champanhe é uma bebida boa, uma bebida limpa”, dizia. Não se importava que os jogadores bebessem, responsabilizava-os pelas suas atitudes, mas premiava-os se fossem vencedores. “Fomos a Paris fazer um jogo particular com o PSV, já depois de termos sido campeões e ter vencido a Taça”, recorda ao PÚBLICO Manuel Fernandes, avançado do Sporting que coincidiu com o técnico britânico em Alvalade em 1981/82, ano de muitas conquistas para o clube. “Depois do jantar, regressámos ao hotel às duas da manhã e eu perguntei-lhe: “A que horas temos de acordar amanhã?” Ele respondeu: “Hoje ninguém vai dormir, vamos para os copos em Paris. Já fomos campeões. Agora temos de nos divertir e conviver uns com os outros.” Regressámos às seis da manhã.”

Morreu aos 83 anos o homem do chapéu, dos charutos e do champanhe. Da liberdade responsabilizada e dos métodos inovadores. “Era uma pessoa à inglesa. Para ele, liberdade era igual a responsabilidade. Criou-se essa imagem de uma pessoa anarca e irresponsável, mas era exactamente o contrário. E era igual para todos”, conta ao PÚBLICO António Oliveira, avançado do Sporting daquele tempo, a quem Allison chamava “Oli”. “Se tínhamos um treino à terça-feira, ele dizia: “Oli, vai ver a família, e vem só na quarta-feira.” Ele queria tirar partido da parte psicológica.”

Nascido em Dartford a 5 de Setembro, Malcolm Alexander Allison, Big Mal, chumbou de propósito na escola para poder ir jogar futebol, chegando ao Charlton com 18 anos em 1945, depois de ter passado os últimos anos da guerra como moço de entregas para uma mercearia. No Charlton teve poucas oportunidades e passou para outro clube de Londres, o West Ham, onde jogou até aos 31 anos, terminando a carreira de forma precoce devido a uma tuberculose que fez com que lhe retirassem um pulmão.

Estreou-se como treinador aos 36 anos no modesto Bath City, andou pelo Canadá e passou pelo Plymouth, antes de chegar ao Manchester City, onde foi adjunto entre 1965 e 1972, cumprindo a época seguinte como técnico principal – como adjunto, foi campeão inglês, venceu as taças de Inglaterra e da Liga e uma Taça das Taças. Ainda em Inglaterra, foi marcante a sua passagem pelo Crystal Palace, clube do qual foi despedido por se ter deixado fotografar nu com uma actriz porno numa banheira nas instalações do clube.

Chegou a Portugal em 1981 e conduziu o Sporting ao título e à Taça de Portugal, falhando por pouco o sucesso na Europa – foi eliminado pelo Neuchâtel Xamax nos oitavos-de-final, depois de uma eliminatória anterior marcante com o Southampton de Kevin Keegan, com um triunfo por 4-2 em Inglaterra e um empate sem golos em Lisboa. “Nesse jogo, ele começou por me colocar a defesa-direito e a ordem era: “Meszaros [o guarda-redes], quando tiveres a bola joga para o Oli”. Marcámos quatro”, recorda António Oliveira.

Apesar da época de sucessos, a permanência de Big Mal em Alvalade terminou logo no início da época seguinte. O britânico seria despedido, por alegadamente beber demasiado, mas voltaria a Portugal para treinar Vitória de Setúbal e Farense. “Foi um processo muito injusto. Um empresário estava a preparar a vinda do Josef Venglos e inventaram uma história que o Allison tinha bebido uma quantidade impossível de álcool”, lamenta Oliveira, que seria o substituto imediato do britânico, como treinador-jogador antes de Venglos chegar a Alvalade.

O Sporting foi o último clube onde teve sucesso como treinador, tendo ainda passagens falhadas pelo Middlesbrough, pela selecção do Kuwait e pelo Bristol, onde terminou a carreira em 1993. Sofreu nos últimos anos da sua vida com os excessos que antes cometera. Quase todos os seus relacionamentos amorosos – um deles com uma coelhinha da Playboy – falharam e a sua saúde degradou-se de forma irreparável pelo álcool que consumiu – admitiu o seu alcoolismo -, terminando os seus dias num lar, já praticamente desligado do mundo. Mas seguramente, garante quem o conheceu, sem arrependimentos. Palavra a António Oliveira: “Era um homem que gostava de viver e transmitia-nos o gozo pela vida para lá do futebol.”

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