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sábado, 23 de outubro de 2010

O Sporting visto pela Liga Aleixo.

Mas que grande post pode ser lido na Liga Aleixo:


Sporting - Jornada 7




Como tantos outros inauditos sportinguistas, procuro acompanhar sempre os jogadores que o meu clube coloca a rodar noutras agremiações. No final da época oitenta-e-nove/noventa, o Sporting decide ir a Aveiro contratar um internacional australiano nascido na Macedónia (razão só por si mais do que suficiente para uma contratação), Vlado Bozinovski de seu nome (um dos melhores nomes para se dizer em voz alta, se se quiser sentir logo melhor – de resto, recordo com saudade uma tarde em que confundi a Macedónia com a Eslovénia e estive horas numa esplanada de Ljubljana a fazer conversa utilizando apenas as palavras “Vlado” e “Bozinovski”). Tudo isto para, num processo que entretanto se tornou conhecido como "movimento-Wender", e apenas uma época depois, o ver regressar de novo ao Beira-mar, desta feita por empréstimo. Nesse sentido, acompanhei Bozinovski na época noventa-e-um/noventa-e-dois, e, por arrasto, o seu Beira-mar. Vlado jogou pouco (em termos quantitativos e, como era seu apanágio, também em termos qualitativos), de maneira que, no defeso, partiu para espalhar mediocridade no Ipswich Town - quase de certeza porque, na fonética anglófona, dizer Vlado Bozinovski era ainda mais prazenteiro. Ainda assim, eu continuei a acompanhar o Beira-mar por algumas épocas mais.

As razões iam variando. Em noventa-e-dois/noventa-e-três, foi para apreciar a primeira aplicação nacional bem sucedida da defesa a cinco com libero assumido, no 5-4-1 de Vítor Urbano: uma máquina bem oleada que, com Acácio na baliza, Oliveira como libero (na altura, usava-se a expressão “como Baresi”); Dinis, Vítor Duarte, Redondo e Zé Ribeiro formando o restante quinteto defensivo, Dacrosse funcionava como tampão defensivo, sobrando a organização ofensiva para Helsinho, Jorge Silvério e Cabral, sempre, embora à vez, no apoio a Dino, um homem que, segundo consta, até à discoteca o seu treinador obrigava a ir sozinho, para não se  desabituar da solidão no ataque. Já de noventa-e-seis a dois-mil-e-três, por exemplo, a razão foi sempre a mesma (o jogador Lobão, que, sozinho, fez trinta faltas num Sporting x Beira-mar), mas serve isto para comprovar algum constância por parte da minha existência no acompanhamento da equipa mais representativa de Aveiro. E, em nenhum minuto de nenhum jogo do Beira-mar, eu vi um seu jogador, perante uma bola parada a quarenta metros da linha de fundo, chutar directo.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           Em afamado e galardoado filme, Alfredo Pacino partilha com Frank "Frankie Five Angels" Pentangeli algo que o seu pai lhe ensinara: mantém os teus amigos perto, mas os teus inimigos ainda mais perto. É certo que, na mesma obra cinematográfica, Pacino também diz "Banana Daiquiri", mas nem por isso este conselho deixa de merecer atenta reflexão. Bom, a expressão, originalmente proferida por um general chinês que já morreu (logo aqui, três inequívocos indicadores de sabedoria: general, chinês, morto), merece várias interpretações, sendo que opto neste momento por lembrar aquela que aponta no sentido de, muitas vezes, se não quase sempre, as acções dos nossos inimigos revelarem muito sobre as nossas fraquezas. Pois na última véspera de feriado, no impessoal Estádio Municipal de Aveiro, um jogador emprestado pelo Vitória Sport Clube à equipa da casa, optou, com trinta e oito minutos decorridos, por chutar à baliza uma bola parada a quarenta metros da baliza. Pode haver várias explicações para esta excentricidade. O jogador Renan pode, por exemplo, ter andado a ver vídeos do ex-jogador Heitor - antiga glória do Marítimo, que, por ter um pacto com o Diabo, conseguia compensar a absoluta falta de talento com a capacidade para meter no ângulo, com uma força-parva e aos ziguezagues, qualquer bola parada em que encostasse a chuteira - e, por isso, ter ficado cheio de fé/tesão para chutar dali. Também pode, por outro lado, ser um doente terminal e, voltando à questão do credo, estar plenamente convencido de que Deus lhe concederia esse último desejo, o de mandar um petardo indefensável ao ângulo a quarenta metros da baliza.

Quase tudo é hipótese, na verdade. Mas, se um jogador adversário remata à baliza a quarenta metros de distância, é bom que nos lembremos daquele paleio dos amigos e dos inimigos, e comecemos a pensar se não teremos uma qualquer fraqueza que impele os nossos inimigos a  chutar a quarenta metros da baliza. Eu, que sou eu, só me vejo a chutar à baliza a quarenta metros da dita nas seguintes situações: a) estou lixado com toda a gente da minha equipa e vou chutar daqui, ao calha, numa clara manifestação “vão todos *****merda, já nem vos posso ver à frente”; b) os adversários fizeram barreira e eu quero acertar com a bola num deles, porque estou lixado com toda a gente e pretendo manifestar a minha pretensão de irem “todos *****merda”; ou c) o guarda-redes adversário é uma porcaria, por que não chutar já daqui?. São as hipóteses que, humildemente, avanço para a discussão.

O Sporting empatou em Aveiro. Costumam acontecer coisas estranhas ao Sporting, em Aveiro. Sejam hat-tricks de defesas camaroneses que, nos dias que correm, estão contratualmente ligados ao Recreativo da Caála, sejam remates a quarenta metros que entram na baliza porque o guarda-redes tem reflexos duma avó, são quase sempre coisas que roubam pontos ao Sporting. Findo o último Beira-mar x Sporting, os inimigos do Sporting, para além de não crucificarem o guardião que defende para dentro uma bola rematada na sua direcção a quarenta metros da baliza (faz sentido, eu também nunca digo mal do César Peixoto ou do Fernando, por exemplo), teceram ainda louvores a Hélder Postiga. Parece inclusive que, no lance do golo, Postiga esteve impecável, recuperando a bola ao defesa. Devemos, portanto, ignorar o facto de Postiga ter  tido de recuperar a bola porque a perdeu em corrida para Hugo, o “velocista” “central” do Beira-mar (sim, as aspas revelam ironia). Da mesma forma que Paulinho César, do Porto, era um avançado para fazer brilhar os Tó Ferreira do Famalicão, Postiga é o avançado que existe para fazer brilhar os Rui Regos desta vida. Nada mais.

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